A tragédia dos comuns é uma situação em que indivíduos agindo de forma independente e racionalmente de acordo com seus próprios interesses comportam-se em oposição aos melhores interesses de uma comunidade, esgotando algum recurso que é comum a todos.
Sem viés político, essa é uma situação que acontece na Amazônia e em outros vários ecossistemas brasileiros desde o “descobrimento” do Brasil.
Para entender melhor essa teoria, imagine uma grande área onde as pessoas têm o direito de cultivar uma parcela da terra como bem quiserem. O acesso é livre e irrestrito. Desta forma, ali existem algumas pessoas plantando, outras manejando animais e algumas apenas preservando o seu espaço para ter sombra. Nesta grande área existe apenas uma fonte de água. Aqueles que plantam acabam por consumir mais água do que os demais, deixando assim, em períodos de estiagem, a fonte totalmente seca. O resultado é que os plantadores conseguiram maximizar os seus ganhos, ou seja, a riqueza ficou concentrada neste pequeno grupo. Por outro lado, o prejuízo decorrente da falta de água naquele período foi dividido entre todos os presentes naquela área. Essa situação fica ainda mais crítica com o aumento da população na área.
Assim, esta teoria afirma que o livre acesso e a demanda irrestrita de um recurso finito terminam por condenar estruturalmente o recurso por conta de sua superexploração.
Este conceito foi baseado originalmente em um ensaio feito pelo matemático e economista William Forster Lloyd e popularizado pelo ecologista Garrett Hardin no ensaio "The Tragedy of the Commons", publicado em 1968 na revista Science. Mais recentemente, a teoria foi revisitada pela vencedora do Prêmio Nobel de Economia, Elinor Ostrom, que incluiu o elemento da cooperação natural para resolver parte do descontrole existente.
Embora essa hipótese seja antiga, a tragédia dos comuns é ainda extremamente frequente nos dias de hoje, não faltando exemplos no nosso dia-a-dia que, de forma análoga, ilustram a superexploração de recursos finitos.
Os rios, lagos e mares têm suas espécies exploradas aos extremos pelas populações, em especial por aqueles que não dependem diretamente destes recursos para a sua sobrevivência. As águas dos rios são comumente desviadas por grandes lavouras, indústrias, açudes, comprometendo todo o abastecimento da população à jusante. Dejetos orgânicos e químicos são lançados diariamente nos rios para minimização dos custos de poucos, porém, maximizando o prejuízo de muitos, que pagam por um tratamento de água mais caro.
Neste contexto, a floresta Amazônia entra como um caso emblemático. Sem qualquer viés político, é notório que há uma superexploração dos seus recursos por pequenos grupos, não de hoje, mas desde que se “descobriu” a Amazônia. Assim, a riqueza é compartilhada por poucos e o prejuízo absorvido por um planeta inteiro. É claro que a destruição de outras florestas mundo à fora, contribui da mesma maneira.
É válido destacar que neste universo perverso muitas pessoas simples são utilizadas para operacionalizarem a destruição, “externalizando os custos da produção” desta minoria que se locupleta financeiramente.
A floresta Amazônica ocupa hoje uma área 6,5 milhões de km², revestindo nove países da América do sul com a maior floresta tropical do mundo. O Brasil tem 85% desta floresta. Rica em biodiversidade e com uma grande quantidade de reserva de água doce, a Amazônia é extremamente importante para o Brasil e para o mundo, seja do ponto de vista ambiental ou econômico.
A quantidade de minerais e pedras preciosas, árvores que fornecem madeira, espécies da fauna e flora passíveis de uso farmacêutico, além das reservas de petróleo é imensa nesta área. Sem contar a terra sujeita a uso para pastagens e lavouras. Acontece que a destruição daquele ecossistema – que é majoritariamente público, ou seja, comum a todos, gera prejuízos que devem ser absorvidos por milhões de pessoas em detrimento do ganho financeiro de um pequeno grupo. É a materialização da tragédia dos comuns. Entre os principais prejuízos dessa exploração estão as mudanças no ciclo hidrológico das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, empobrecimento do solo, erosão, desertificação, modificação do clima mundial, redução da biodiversidade, entre outros efeitos, muitas vezes irreversíveis.
Por isso para evitar que a tragédia dos comuns se materialize, em especial na Amazônia, é necessário transcender debates com vieses políticos. Não cabe neste momento culpar A ou B, é hora de cooperar por um bem maior, é hora de fazer políticas que maximizem os ganhos proporcionados pela floresta aos brasileiros, e assim, para todo o planeta, hoje e sempre.