Saturday, September 21, 2019

A tragédia dos comuns e a Amazônia

A tragédia dos comuns é uma situação em que indivíduos agindo de forma independente e racionalmente de acordo com seus próprios interesses comportam-se em oposição aos melhores interesses de uma comunidade, esgotando algum recurso que é comum a todos.

Sem viés político, essa é uma situação que acontece na Amazônia e em outros vários ecossistemas brasileiros desde o “descobrimento” do Brasil. 

Para entender melhor essa teoria, imagine uma grande área onde as pessoas têm o direito de cultivar uma parcela da terra como bem quiserem. O acesso é livre e irrestrito. Desta forma, ali existem algumas pessoas plantando, outras manejando animais e algumas apenas preservando o seu espaço para ter sombra. Nesta grande área existe apenas uma fonte de água. Aqueles que plantam acabam por consumir mais água do que os demais, deixando assim, em períodos de estiagem, a fonte totalmente seca. O resultado é que os plantadores conseguiram maximizar os seus ganhos, ou seja, a riqueza ficou concentrada neste pequeno grupo. Por outro lado, o prejuízo decorrente da falta de água naquele período foi dividido entre todos os presentes naquela área. Essa situação fica ainda mais crítica com o aumento da população na área.

Assim, esta teoria afirma que o livre acesso e a demanda irrestrita de um recurso finito terminam por condenar estruturalmente o recurso por conta de sua superexploração. 

Este conceito foi baseado originalmente em um ensaio feito pelo matemático e economista William Forster Lloyd e popularizado pelo ecologista Garrett Hardin no ensaio "The Tragedy of the Commons", publicado em 1968 na revista Science. Mais recentemente, a teoria foi revisitada pela vencedora do Prêmio Nobel de Economia, Elinor Ostrom, que incluiu o elemento da cooperação natural para resolver parte do descontrole existente. 

Embora essa hipótese seja antiga, a tragédia dos comuns é ainda extremamente frequente nos dias de hoje, não faltando exemplos no nosso dia-a-dia que, de forma análoga, ilustram a superexploração de recursos finitos. 

Os rios, lagos e mares têm suas espécies exploradas aos extremos pelas populações, em especial por aqueles que não dependem diretamente destes recursos para a sua sobrevivência. As águas dos rios são comumente desviadas por grandes lavouras, indústrias, açudes, comprometendo todo o abastecimento da população à jusante. Dejetos orgânicos e químicos são lançados diariamente nos rios para minimização dos custos de poucos, porém, maximizando o prejuízo de muitos, que pagam por um tratamento de água mais caro. 

Neste contexto, a floresta Amazônia entra como um caso emblemático. Sem qualquer viés político, é notório que há uma superexploração dos seus recursos por pequenos grupos, não de hoje, mas desde que se “descobriu” a Amazônia. Assim, a riqueza é compartilhada por poucos e o prejuízo absorvido por um planeta inteiro. É claro que a destruição de outras florestas mundo à fora, contribui da mesma maneira. 
É válido destacar que neste universo perverso muitas pessoas simples são utilizadas para operacionalizarem a destruição, “externalizando os custos da produção” desta minoria que se locupleta financeiramente. 

A floresta Amazônica ocupa hoje uma área 6,5 milhões de km², revestindo nove países da América do sul com a maior floresta tropical do mundo. O Brasil tem 85% desta floresta. Rica em biodiversidade e com uma grande quantidade de reserva de água doce, a Amazônia é extremamente importante para o Brasil e para o mundo, seja do ponto de vista ambiental ou econômico.

A quantidade de minerais e pedras preciosas, árvores que fornecem madeira, espécies da fauna e flora passíveis de uso farmacêutico, além das reservas de petróleo é imensa nesta área. Sem contar a terra sujeita a uso para pastagens e lavouras. Acontece que a destruição daquele ecossistema – que é majoritariamente público, ou seja, comum a todos, gera prejuízos que devem ser absorvidos por milhões de pessoas em detrimento do ganho financeiro de um pequeno grupo. É a materialização da tragédia dos comuns. Entre os principais prejuízos dessa exploração estão as mudanças no ciclo hidrológico das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, empobrecimento do solo, erosão, desertificação, modificação do clima mundial, redução da biodiversidade, entre outros efeitos, muitas vezes irreversíveis.

Por isso para evitar que a tragédia dos comuns se materialize, em especial na Amazônia, é necessário transcender debates com vieses políticos. Não cabe neste momento culpar A ou B, é hora de cooperar por um bem maior, é hora de fazer políticas que maximizem os ganhos proporcionados pela floresta aos brasileiros, e assim, para todo o planeta, hoje e sempre.

Sunday, April 28, 2019

Qual o seu legado para o planeta?

Então você está deixando o seu legado? Deixando filhos melhores para o mundo? Garantindo que o ar puro que você respira hoje também estará disponível às próximas gerações? Garantindo que todos tenham acesso à água, comida e a sombra das árvores que ainda você consegue desfrutar? Compartilhando os seus conhecimentos e as sua boas ações? Ou seja, fazendo a diferença para o planeta, certo?
Bem, até pode ser, mas, infelizmente, a maioria das pessoas não faz isso. Na verdade, nem pensa nisso. A maioria é mera consumidora de recursos. Da água, do ar, do solo, da fauna e flora, enfim, daquilo que o planeta nos oferece em abundância. Em 1950, éramos 2,5 bilhões de pessoas. Hoje somos mais de 7 bilhões. Em 2100 seremos mais de 11 bilhões, segundo a ONU. O planeta oferece recursos finitos frente a um demanda infinita, logo, temos uma equação simples que hoje não bate. Se todas as pessoas do planeta consumissem ao ritmo dos americanos, que representam apenas 5% da população do planeta, mas influenciam os hábitos de muitos países, precisaríamos neste exato momento, de três a cinco planetas. Mas nós só temos um.
Estamos vivenciando a quarta revolução industrial, momento em que a automação aliada à internet vem transformando a indústria, integrando máquinas em sistemas cada vez mais produtivos, gerando, assim, produtos a uma velocidade assustadoramente maior. Produtos que, em sua maioria, viram lixo em menos de seis meses. Lixo que vai parar nos rios e oceanos, matando animais e contaminado as águas. Agua que é fonte de vida... Sem vida, não há futuras gerações...
Se de um lado o homem demonstra sua capacidade de realizar grandes feitos científicos para a humanidade, de outro lado mostra sua total ignorância em manter protegida a fonte dos recursos que lhe permitiram tais avanços. Nossos rios estão poluídos, nossos solos contaminados, o nível dos mares tem subido, nossas florestas têm sido devastadas, nossos animais extintos, nossa agricultura bombardeada por produtos químicos... Em contrapartida, nossa saúde, vai mal... nunca estivemos tão enfermos. Nunca, em qualquer momento da história, registramos tantos casos de câncer, hipertensão, depressão, estresse... Já vencemos a grande gripe, o tifo, a malária, erradicamos diversas doenças mundo a fora, mas ainda não fomos capazes de salvar a população do egoísmo e da ignorância.
Muitas dizem que esse processo é natural, e se chama progresso. Bem, eu diria que isso é uma atitude egoísta, desprovida de qualquer sentimento de empatia, que em outras palavras significam não se deixar um legado para o planeta.
Num século marcado por extremos, onde fomos capazes de exterminar populações, realizar enormes genocídios, também fomos capazes de proporcionar elevada qualidade de vida para muitas populações. Se de um lado podemos destruir o planeta com as armas nucleares, químicas e biológicas, de outro também podemos garantir dignidade para as pessoas. Mas por que esse contraste? Por que não deixamos apenas legados positivos?
Bem, é uma pergunta complexa. Independente da resposta, a solução é uma só. Deixar o nosso legado, a nossa pegada, a nossa marca positiva para o planeta. Não é difícil!
Comece por você. Pratique o bem acima de tudo. Crie seus filhos pautando-se em bons princípios, incutindo uma visão de sustentabilidade neles. Valorize as atitudes positivas. Não pratique atos desonestos. Não desperdice água, nem alimentos, nem energia elétrica. Compartilhe tudo com todos. Quanto mais você compartilhar, mais você terá. Valorize as coisas imateriais, desapegue o máximo das coisas materiais. Proteja o meio ambiente, a fauna, a flora, o solo, os rios, eles são a base da sua sobrevivência e de seus filhos. Descarte o lixo de forma adequada. Reduza, reuse, recicle. Ajude as pessoas, pessoas em situação de vulnerabilidade precisam da nossa ajuda. Sem oportunidades ou em ambientes desfavoráveis as coisas são sempre mais difíceis.
Hoje, não basta mais só fazer a nossa parte, precisamos fazer um pouco mais!

Monday, January 21, 2019

Sociedade de Garantia Solidária – agora vai!

Em 2019 há grande chance do Projeto de Lei Complementar n° 113/2015, que propõe a constituição das Sociedades de Garantia Solidária, ser aprovado no Senado Federal. Este projeto de lei visa acrescentar dispositivos à Lei Complementar nº 123/2006 – que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte – para autorizar a constituição da SGS - Sociedade de Garantia Solidária, defendendo sua reedição no arcabouço jurídico nacional. O processo foi distribuído à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e aguarda parecer do relator designado.
É importante lembrar que tudo começou há mais de 15 anos a partir de estudos realizados no âmbito de uma dissertação de mestrado do Programa de Engenharia de Produção da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Na ocasião, 2002, identificou-se grande oportunidade para os micros e pequenos empreendedores brasileiros, dado o contexto de baixo crescimento econômico que predominava, onde as garantias passavam a ter um papel cada vez mais crítico na concessão de crédito. 
E qual seria esta oportunidade? 
Um fundo de garantia para avalizar empréstimos a micro e pequenos empreendedores, facilitando, assim, o acesso a financiamentos no mercado financeiro. Embora este tipo de sociedade já estivesse contemplado na época, no âmbito da Lei nº 9.841/1999, o mesmo não emplacou. Entre as principais causas, atribui-se o momento político, lacunas na referida Lei, especialmente quanto a sua regulamentação, que ficou a encargo do SEBRAE ao invés do Conselho Monetário Nacional. Sendo assim, acabou revogada pela Lei Complementar 123/2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Micro Empresa e Empresa de Pequeno Porte.
Apesar de extinta, o objetivo das Sociedades de Garantia Solidária permanecia atrativo, pois muitos negócios potencialmente lucrativos deixavam de prosperar na formalidade exatamente por falta de instrumentos que reduzissem o risco dos investidores.
Com o objetivo de conceder garantias pessoais ou reais a seus sócios e participantes, preferencialmente microempresas e empresas de pequeno porte, vários países da Europa já possuíam esse sistema implantado, com êxito no seu uso. A Espanha, por exemplo, autorizava a constituição de “sociedades de garantia recíproca” desde 1978. Aqui na América latina, Argentina, Chile e México também já possuíam esse sistema, com significativos ganhos em suas economias.
Conforme a proposta que se encontra atualmente no Senado (PLC 113/2015, de iniciativa do antes deputado Esperidião Amin/PP-SC, agora senador), a SGS terá de respeitar algumas regras importantes. Deverá ser uma sociedade por ações, para a concessão de garantia a seus sócios participantes, que serão, preferencialmente, microempresas e empresas de pequeno porte, observado um número mínimo de 10 integrantes e a participação máxima individual de 10% do capital social. Assim, a SGS é formada por duas categorias de acionistas: os participantes (exclusivamente, micro empresas e empresas de pequeno porte); e os investidores (pessoas físicas ou jurídicas interessadas em auferir rendimentos), estes últimos não podendo deter mais de 49% do capital social.

Acredita-se que com o advento das SGS, após todas as regulamentações necessárias, haverá grande facilidade de acesso a recursos pelos micro e pequenos empreendedores, com alcance muito mais amplo do que os atuais modelos vigentes, possibilitando, assim, o desenvolvimento dos pequenos negócios e estímulos à diversificação de investimentos no país.

Autores: Ricardo Alexandre de Mello Oliveira e Thiago Zschornack

Cronologia do projeto:

1999 - Lei Geral da MPE, n° 9841/1999, prevê a SGS nos artigos 25 a 31. Estudos apontam a Lei como impraticável, pois a regulamentação caberia ao CMN e BC e não ao SEBRAE, conforme previsto.
2001- Pedido do BRDE através do Dr. Casarotto (gerente de planejamento na ocasião) para realização de pesquisa sobre o tema a interesse do banco. UFSC endossa o interesse.
2002 - Elaboração e defesa de dissertação: Sociedades de Garantia Solidária como alternativa de acesso ao crédito para micro e pequenas empresas, no Estado de Santa Catarina.  Autor: Ricardo Alexandre de Mello Oliveira.
2007 - Lançada a primeira edição do Livro: Sociedade de Garantia Solidária/ Autor: Ricardo A. M. Oliveira. Editora: Letra D’Água.
2007 - À pedido de Ricardo, é elaborada minuta do projeto de Lei (Sr. Pablo Pombo) / Adaptação do modelo português.
2007 - Deputado Fernando Coruja entra com o PLP 109/2007, que previa a criação da SGS no âmbito da Lei Geral da MPE, com alteração do artigo 64.
2010 - Projeto tramitou na Comissão de Finanças, porém, foi arquivado em função da não reeleição do deputado Coruja.
2011 - Desarquivamento do projeto. O novo autor passa a ser o deputado Espiridião Amin (PP/SC). O PLP recebe o número 106/2011. O artigo que receberia a alteração passa a ser o de n° 61.
2012 - 05/12/2012 - Aprovação do PLC 106/11 pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados.
2013 - Lançamento da segunda edição do Livro. Autores Ricardo Alexandre de Mello Oliveira e Sidney Schossland. Editora: Letra D’Água.
2015 - 26/08/2015 – Aprovação da PLP 106/11, por unanimidade, na Câmara de Deputados. Seguiu para o Senado Federal com o número PLC 113/2015.
2016 - Projeto de Lei Complementar 03/2016 do Deputado Silvio Dreveck para inserir a SGS na Lei Geral da MPE de Santa Catarina, artigo 40.
2019 - Provável aprovação no Senado Federal: Distribuído à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Aguarda parecer do Relator designado (aguardando desarquivamento).
2019 - Lançamento da terceira edição do Livro. Autores: Ricardo A. de M.. Oliveira, Sidney Schossland e Thiago Zschornack.

Monday, December 3, 2018

Não há paz sem guerra

A paz que tanto procuramos é fruto de muita guerra, pois sem luta, a paz é mera ilusão. Vou recorrer à Ciência para afirmar que as coisas caminham para desordem naturalmente. O conceito de entropia na termodinâmica, a teoria do Caos, a teoria Geral de Sistemas... Enfim, todas defendem a premissa que sem resistência a desordem é uma certeza.
Faço, assim, uma analogia às nossas vidas, pois não é diferente, se esperarmos que as coisas aconteçam sem ação efetiva para frearmos a desordem para qual caminhamos, o caos tomará conta, sem piedade. Podemos comprovar tal situação em pequenos exemplos do cotidiano.
Se não limparmos a nossa casa, suja ela ficará; se não estudarmos, ultrapassados ficaremos; se não nos dedicarmos no trabalho, substituídos seremos; se não nos alimentarmos bem, enfermos nos tornaremos; e se não cultivarmos amor, na desgraça da indiferença morreremos.
A paz não chega naturalmente, ela não bate em nossas portas, nem nos chama pelo nome, ela é fruto de muito esforço, de muita luta. E é justamente este esforço que eu me refiro como uma guerra, as guerras diárias que todo mundo precisa travar.
Em dias cada vez mais caóticos, de pressão extrema, de pessoas sem paciência, de injustiças em todos os meios, de barbaridades mil, precisamos travar diversas guerras para chegarmos são e salvos em nossas casas ao final do dia. E talvez a maior das guerras seja contra nossos próprios demônios, nossos medos, aflições, dúvidas...
Heráclito já dizia que a guerra é mãe e rainha de todas as coisas; alguns transforma em deuses, outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres.
A guerra de todos os dias não é uma guerra contra o outro é uma guerra contra nossos maiores temores, contra os males que querem impedir a nossa felicidade, ou seja, contra tudo aquilo que nos afasta da paz. Nesta guerra nós não precisamos de soldados, nem de armas, nem de tanques, só precisamos de boas intenções, de esforço e de muita luta. Nosso maior inimigo está dentro de nós mesmos, no nosso consciente ou subconsciente, traduzido, basicamente, no modo como lidamos com tudo ao nosso redor.
Achar que a ausência de ação, a boa intenção, nos aproximará da paz, do sossego, da calmaria, é um grande engano. É como a fé sem ação, ela é inócua.
Quanto mais preparados estivermos para as batalhas diárias, maior a chance de derrotarmos nossos inimigos mentais e, assim, fincar nossa bandeira no território conquistado. Mas é bom nunca esquecermos que a guerra nunca é ganha com apenas uma batalha vencida.
Superar o estresse, a tristeza, o ressentimento, enfim, os sentimentos ruins que nos afligem diariamente precisa se tornar uma ação constante, de vigilância, pois a paz não vem até nós, nós precisamos ir até ela. Em resumo, não há paz sem guerra.

Sunday, December 2, 2018

As lógicas do comportamento humano - o caso de um pub

Olha que interessante!! Frequento há algum tempo um famoso snooker pub da cidade. Uma casa cuja capacidade máxima é de 500 pessoas. Muito boa por sinal, com uma boa variedade e qualidade de bandas de rock. Nas quintas-feiras e vésperas de feriados a lotação geralmente tem sido máxima.
Como cientista de dados e apreciador do comportamento humano, resolvi, neste último mês, então, observar o comportamento das pessoas que lá frequentam no intuito de encontrar algum padrão interessante. E olha só, vamos às constatações.
Percebo que o público masculino tem sido levemente superior ao feminino, especialmente nas vésperas de feriados. Nos dias em que o público masculino é nitidamente superior, fica evidente um comportamento de relutância do público feminino, muitas vezes de desconforto, que, é interpretado erroneamente como uma atitude esnobe das mulheres, do tipo “está se fazendo de difícil”. Mas não é!
É nítido que muitos frequentadores vão lá para “ficar” com alguém, eu arriscaria dizer - a maioria. Quanto ao “ficar” é muito interessante de se observar. O auge da “pegação” é após a meia noite, quando o álcool teoricamente já fez seu efeito e encorajou os mais tímidos. A casa abre lá pelas 21:00 da noite. Então, a partir da meia noite, começa um declínio, cujo término se dá lá pelas 1:30/2:00 da manhã. Neste horário, a fila para pagar a conta cresce exponencialmente, influenciada também, logicamente, pelo término da música ao vivo, que geralmente ocorre lá pelas 2:00. Ou seja, é pegar ou largar até esse horário!!! 
Depois de “ficarem” os ficantes costumam se afastar do palco para conversarem, o que parece lógico, uma vez que o barulho é menor. Porém, muitos vão para a fila antecipadamente, ou seja, “vão conversar” em algum ambiente externo ao pub, criando uma lógica diferente da anterior..
Os lugares mais estratégicos, e quase sempre ocupados primeiramente, são os acessos aos banheiros e o entorno do bar, o que parece também bem lógico. No acesso ao banheiro masculino, com maior presença de mulheres e vice-versa. Próximo ao palco geralmente se concentram os grupos de amigos, bem como nas mesas de forma geral, o que também faz sentido, uma vez que estas pessoas são, visivelmente, as que mais curtem as musicas das bandas. Ou seja, não estão tão preocupadas com a tal "pegação". 
Marcar de se encontrar via redes sociais tem se mostrado uma boa ideia, pois o percentual de êxito daqueles que relataram uma boa experiência é elevadíssimo. Ou seja, isso leva a crer que neste caso já rolou uma conversa prévia, e a desconfiança teoricamente caiu. Muitos marcam pelas redes sociais e aplicativos de conversa, tanto que os celulares não param, mesmo os dois estando lá no mesmo ambiente. Mas o curioso vem a seguir...
É bastante comum entre os homens comentários sobre eventuais frequentadoras de uma famosa “casa das tias” da cidade. Isso leva a crer que as redes sociais, tais como Tinder, Par Perfeito e outras atuam como concorrentes desse “mercado”, uma vez que facilitam a aproximação e o relacionamento entre as pessoas, dispensando ou reduzindo, assim, a necessidade “daquele serviço”. Bem, é uma teoria.
Oferecer bebida às mulheres não tem se mostrado uma técnica eficiente. Conversas muito longas com desconhecidos também não. Aqueles que focam numa pessoa tem tido mais êxito do que aqueles que atiram para todos os lados. A beleza física e o porte físico são fatores importantes para as mulheres, mas não únicos. Homem tem que ter a tal “pegada” também, lógico, com gentileza. Pegada pode ser traduzida com uma “aproximação com boa autoconfiança”.
As mulheres em grupos (três ou mais) utilizam uma técnica curiosa, talvez homens também, mas não percebi. Uma das amigas do grupo tira discretamente a foto de algum homem interessante e mostra para as demais. Depois de uma avaliação pormenorizada elas se aproximam ou não deste sujeito. Não sei o que avaliam tudo, mas muitas o fazem. 
Ficar próximo de alguém, encarando-o é meio caminho andado, especialmente se as mulheres tomarem a iniciativa de começar a encarada.
As mulheres com as roupas mais ousadas (digamos saias mais coladas e curtas e decotes maiores) tendem a ficar com homens mais musculosos, do tipo “saradão”. 
Muitos grupos de amigos homens parecem precisar “ficar” com alguém a todo custo, como se isso reforçasse sua masculinidade perante o grupo. As "caçadas" são bem comuns, com grupos se deslocando para todos os lugares possíveis do ambiente. Isso é fator desencadeante de desconforto em muitas mulheres, afastando-as de alguns espaços e muitas vezes acelerando a saída das mesmas do pub.
Há um grande público de “pegadores” costumeiros, o seja, que frequentam a casa quase toda semana. Isso leva a crer que, primeiramente, gostam do ambiente, lógico, mas também que os relacionamentos que ali se dão são bem superficiais, ou seja, “fiquei um dia e acabou”.
Bem, isso é o que pude observar ao longo de apenas um mês. Não é um período tão significativo assim... Mas o que tiro dessas observações? Olha só, tiro que em quase tudo existe lógica, até no comportamento humano. Então, por mais que a paixão, a atração, a química e tudo que esteja relacionado a sentimentos conjugais seja algo bem subjetivo, ainda assim, existem muitas lógicas nas ações humanas... Vamos então estabelecer estratégias e testá-las na prática?

Wednesday, July 12, 2017

A tartaruga na árvore

Se um dia você encontrar uma tartaruga no topo de uma árvore, não mexa com ela, pois alguém a colocou ali.

Essa história é bastante conhecida, mas, infelizmente, ainda frequente nas organizações.
Pessoas desprovidas de conhecimento, competência técnica ou habilidades gerenciais acabam surgindo em posições estratégicas, como se caíssem de paraquedas. São pessoas externas à organização, que desconhecem o negócio, desconhecem a cultura organizacional, mas tem um “QI – Quem Indica” forte. Algumas vezes são parentes ou amigos dos sócios ou no caso das empresas públicas, indicações políticas.

Nenhuma empresa esta imune a este mal, embora nos órgãos públicos esse “quelônio” tem data para aparecer. Nestas repartições, geralmente, a cada quatro anos, nas mudanças de gestão, os cargos mais estratégicos mudam de “dono”. A lógica é simples, as pessoas que de alguma forma ajudaram nas campanhas eleitorais são compensadas com algum cargo público.

O fato é que, independente do motivo da indicação, estes “gestores” podem em pouco tempo destruir toda uma cultura organizacional existente, gerando prejuízos gigantescos e exigindo, assim, longos anos para a completa recuperação da organização. Aí a pergunta que fica é: quem vai pagar por todo esse prejuízo?

Pois é, nas empresas privadas, quem paga são os funcionários e os clientes, já nas empresas públicas, são os funcionários públicos e toda a população. Como todos nós fazemos parte da população, de uma forma ou outra, acabamos também pagando este preço.
Mas o que fazer para evitar tal situação?

Bem, na iniciativa privada o próprio mercado acaba se tornando uma ferramenta de controle, exigindo mudanças estruturais sempre que algo não está legal. O problema maior acontece quando as “tartarugas de árvore” assumem a gestão de atividades de apoio. Nestes casos, o reflexo costuma ser indireto para o cliente, tornando mais morosa a percepção dos problemas pelo “dono da caneta”, embora internamente as pessoas saibam plenamente quem são essas “figurinhas”.  Ainda assim, como a excelência na gestão é inspirada pelo engajamento e guiada pelo conhecimento, estes gestores, mais cedo ou mais tarde, estarão expostos. Neste caso, cabe apenas esperar, pois em algum momento da vida profissional essas pessoas vão se deparar com alguém muito inteligente e ético, que não será conivente com o desempenho e exigirá mais profissionalismo e competência, colocando-as no seu devido lugar, que não será numa árvore.

O grande desafio está na iniciativa pública. Nas empresas públicas, autarquias e sociedades de economia mista o buraco é mais embaixo. Como os cargos de gestão são cargos comissionados, no qual o critério confiança prevalece sobre o critério técnico, é bastante comum a indicação de verdadeiras “tartarugas” para posições estratégicas. São pessoas que fingem que trabalham, fingem que cumprem as regras, só não fingem na hora de receber os salários, que, diga-se de passagem, são bem elevados. Essas pessoas geralmente têm vários “compromissos externos” e costumam resolver “assuntos pessoais” na tarde de sexta-feira.

Por ser uma realidade bastante conhecida das pessoas, a sociedade já desenvolveu uma cultura de conformismo, do tipo: “sempre foi assim”, “faz parte do jogo político”, “é o ASPONE – ASsessor de POrra NEnhuma do político”, e por isso, pouca coisa tem sido feita. O fato é que tal situação não pode ser admitida, pois fere diversos princípios constitucionais e gera prejuízos incalculáveis. É claro que em todos os casos, existem as exceções.
A Constituição Federal deixa claro que a regra para a contratação de pessoas na Administração Pública é o concurso público, sendo o cargo em comissão uma exceção à regra. Para estes cargos em comissão a Constituição estabelece a necessidade de fixação de uma quantidade mínima de concursados para ocupação. Infelizmente, na esmagadora maioria das situações inexiste lei regulando este percentual mínimo. Em razão disso, abusos são cometidos de todas as formas e nas mais variadas entidades administrativas. 
Uma boa tentativa de moralizar essas indicações políticas e impedir que as copas de árvores continuem sempre repletas de tartarugas, veio com o advento da Lei 13.303/2016, que estabelece normas relacionadas a governança corporativa, transparência e compliance no âmbito das empresas públicas, sociedades de economia mista e de suas subsidiárias. Neste sentido, a lei estabelece requisitos objetivos a serem atendidos antes da nomeação dos membros do Conselho de Administração e da Diretoria, com um viés moralizador.

Iniciativas como essas mostram que a situação pública não é um caso perdido. Por isso, a população brasileira precisa acordar. É hora de dar um basta nestes desmandos políticos. É preciso fazer cumprir as leis. É preciso mostrar que a gestão só será perfeita quando ninguém for descartável... E todos entenderem como, o quanto e porquê são substituíveis...

Saturday, December 17, 2016

Socialismo ou Capitalismo? – Uma discussão de bar

Certa vez um grupo de amigos, reunidos em um bar, resolveu discutir qual o melhor sistema de governo, o Socialismo ou o Capitalismo.


Feito o pedido ao garçom cada grupo começou a apresentar seus argumentos. Em pouco tempo a discussão foi ganhando robustez.
Os que defendiam o Socialismo alegavam que as pessoas neste sistema tinham os mesmos direitos e deveres, não existindo, assim, classes sociais nem a figura do patrão, pois todos trabalhariam com o mesmo propósito: melhorar a sociedade.
Os que defendiam o Capitalismo, por sua vez, alegavam que o esforço e a capacidade das pessoas eram fatores que determinavam o grau de riqueza de cada individuo, e, por consequência, a classe social a qual este pertenceria, logo, o mercado deveria ser livre.
Os defensores do socialismo, contrariados, alegavam que a tal livre concorrência de mercado era perversa, uma vez que valorizava a maximização do capital a qualquer custo, gerando exploração da mão-de-obra mais humilde e a exclusão dos detentores de menor renda, por isso, o Estado deveria garantir esse equilíbrio.
Os defensores do capitalismo, já exaltados, argumentavam que o Estado era incapaz de controlar todos os meios de produção, inviabilizando constantes inovações e melhorias tecnológicas, atrasando, assim, o desenvolvimento econômico do país e desmotivando os funcionários mais esforçados.
A discussão se prolongava, os argumentos pareciam não ter fim e os exemplos práticos citados fomentavam ainda mais discórdia. Neste contexto, o garçom que atendera aqueles jovens, atento aos possíveis desdobramentos daquela conversa, resolveu então intervir e propor um desafio.
- Meus amigos, disse ele. Percebo que esta discussão está afastando cada vez mais vocês de um consenso, por isso, se vocês me permitirem, gostaria de propor um simples desafio.
Os jovens se entreolharam e já convictos de que aquela discussão realmente não levaria a nenhuma conclusão, não hesitaram em aceitar a proposta.
O garçom então enunciou o desafio:
- Amigos, gostaria que vocês fizessem duas coisas. Primeiro, escrevessem em um pedaço de papel o maior sonho da vida de vocês. Em seguida, depois que todos já tiverem cumprido a primeira tarefa, gostaria que compartilhassem os papeis entre todos e elegessem o melhor sonho do grupo. Vocês conseguem fazer isso?
Por alguns segundos os jovens ficaram quietos, apenas refletindo, mas logo surgiram as primeiras manifestações.
- Isso é impossível, disse o primeiro.
- Como julgar o sonho de outra pessoa? Disse o segundo.
- Qualquer priorização que fizéssemos seria injusta com alguém, concluiu o terceiro.
E todos se manifestaram no mesmo sentido, concluindo ser realmente impossível realizar aquele desafio de forma a agradar todos os participantes.
O garçom, então, calmamente e com um ar nítido de presciência, iniciou sua explicação:
- Meus amigos, antes de tudo, gostaria de salientar que discussões desta natureza são muito comuns, especialmente em períodos de crise. E como as crises são cada vez mais comuns, é preciso de muito cuidado e reflexão.
Os jovens continuavam atentos a cada palavra proferida pelo garçom, embora a ansiedade pela explicação fosse nítida em cada olhar.
E o garçom continuou:
- Bem, quanto ao desafio, como vocês mesmos perceberam é muito difícil chegar a um consenso quando se fala de algo tão íntimo do ser humano - os sonhos. Os sonhos assim como os sistemas políticos podem ser perfeitos no campo da teoria, porém, precisam da prática para a sua efetivação. Ai está a grande diferença entre os dois.
Enquanto a realização dos nossos sonhos só depende de nós e, eventualmente, de mais alguém que os compartilhe, os sistemas políticos precisam de uma nação inteira compartilhando de ideais sonhados originalmente por uma ou duas pessoas. Então, se vocês já não chegaram a um consenso enquanto grupo imaginem milhares ou milhões de pessoas, cada uma com suas convicções, percepções e dúvidas acerca da realidade que as rodeia. O fato é que os sistemas políticos ignoram totalmente o ser humano que existe dentro de cada individuo.
O capitalismo, por exemplo, resume o homem a um ser que se realiza na vida pelo trabalho, ou seja, quanto mais ele trabalha mais riqueza e liberdade ele adquire. Neste sistema ter poucos bens é sinônimo de fracasso, já um patrimônio robusto significado de sucesso, poder e felicidade. O socialismo, por sua vez, resume o homem a um ser simplista, desprovido de ambições, vontades, peculiaridades culturais, entre outras características que a natureza o concedeu e que, por isso, seria capaz de viver harmonicamente numa sociedade com distribuição igualitária das riquezas.

Sejamos realistas, os dois sistemas enxergam um ser humano incompleto. Por isso amigos, não coloquem em risco a amizade de vocês. Pensem, discutam, mas não se esqueçam: Para ser livre só há um caminho: o desprendimento de todas as coisas que não dependem de nós.

E assim o garçom encerrou a sua explicação e rapidamente colocou-se a servi-los, cumprindo a sua missão.


Ao pagarem a conta, surpresos com a nobre postura e com o conhecimento demonstrado pelo garçom, os jovens não hesitaram em elogiá-lo ao dono daquele estabelecimento. Embalados pela curiosidade, também não hesitaram em questionar como poderia tal garçom ser “apenas” um garçom de bar. O dono, com um grande sorriso no rosto, apoiou os braços sobre o balcão e calmamente se pôs a explicar.

- Meus jovens, iniciou ele. Muito simples. Este homem sempre foi meu melhor garçom. Conheço-o desde jovem. Ele nunca me deixou na mão. Sempre mostrou vontade em aperfeiçoar suas habilidades e seus conhecimentos. Devido a sua grande dedicação no trabalho e ao reconhecimento que recebeu dos nossos clientes, eu quis promovê-lo. Aliás, eu não queria perdê-lo para o mercado, mesmo sabendo que eu já pagava acima da média para a função. Desta forma, ofereci a ele a coordenação de atendimento e cozinha.  Mas ele não aceitou, receou que pudesse não desempenhar a nova função com a mesma maestria que desempenhava o oficio de garçom, função que aprendeu do seu pai e para qual afirmava ter um grande dom. Eu então percebi que estava prestes a cometer um grande equivoco.

Sempre utilizei o mercado como fonte de referência para tudo. O mercado sempre balizou as minhas contratações, as demissões, as promoções, os aumentos salariais.... Por isso, a única forma de segurá-lo foi oferecer uma promoção, que, aliás, é uma prática consolidada de reconhecimento do mercado. Pois é, foi assim que eu poderia realmente perder meu melhor garçom e, pior, talvez ganhar um coordenador mediano. Diante desse quase fato eu parei para refletir um pouco. Fechei meus olhos e por alguns minutos revisitei alguns conceitos que eu considerava verdades absolutas desde criança. Logo cheguei a uma conclusão simplista, mas profunda. Seguir a correnteza é mais fácil e cômodo, mas nos levará sempre ao mesmo lugar, um lugar que abriga calmarias, mas também quedas bruscas. Por que não nadar contra e tentar algo diferente? 

Foi o que eu fiz. Hoje pago meu garçom pelo que ele merece, ou seja, pelo valor que ele agrega ao meu negócio. Desde então, ele recebe um salário muito melhor. Dado o seu interesse em aperfeiçoar seus conhecimentos e habilidades, pago a ele todos os seus estudos. Dou ainda 60 dias de férias ao ano e valiosos benefícios. Hoje tenho certeza que tenho o melhor garçom da cidade. Esse é o meu regime, essa é minha política. Todos os meus funcionários possuem as mesmas oportunidades. O meu negócio, por consequência, vai muito bem! Somos líderes, somos respeitados e, acima de tudo, somos felizes.   


Moral da história: A cooperação é a convicção plena de que ninguém pode chegar à meta se não chegarem todos.