Se um dia
você encontrar uma tartaruga no topo de uma árvore, não mexa com ela, pois
alguém a colocou ali.
Essa
história é bastante conhecida, mas, infelizmente, ainda frequente nas
organizações.
Pessoas
desprovidas de conhecimento, competência técnica ou habilidades gerenciais
acabam surgindo em posições estratégicas, como se caíssem de paraquedas. São
pessoas externas à organização, que desconhecem o negócio, desconhecem a
cultura organizacional, mas tem um “QI – Quem Indica” forte. Algumas vezes são
parentes ou amigos dos sócios ou no caso das empresas públicas, indicações
políticas.
Nenhuma
empresa esta imune a este mal, embora nos órgãos públicos esse “quelônio” tem
data para aparecer. Nestas repartições, geralmente, a cada quatro anos, nas
mudanças de gestão, os cargos mais estratégicos mudam de “dono”. A lógica é
simples, as pessoas que de alguma forma ajudaram nas campanhas eleitorais são
compensadas com algum cargo público.
O fato é
que, independente do motivo da indicação, estes “gestores” podem em pouco tempo
destruir toda uma cultura organizacional existente, gerando prejuízos
gigantescos e exigindo, assim, longos anos para a completa recuperação da
organização. Aí a pergunta que fica é: quem vai pagar por todo esse prejuízo?
Pois é,
nas empresas privadas, quem paga são os funcionários e os clientes, já nas
empresas públicas, são os funcionários públicos e toda a população. Como todos
nós fazemos parte da população, de uma forma ou outra, acabamos também pagando
este preço.
Mas o que
fazer para evitar tal situação?
Bem, na
iniciativa privada o próprio mercado acaba se tornando uma ferramenta de
controle, exigindo mudanças estruturais sempre que algo não está legal. O
problema maior acontece quando as “tartarugas de árvore” assumem a gestão de
atividades de apoio. Nestes casos, o reflexo costuma ser indireto para o
cliente, tornando mais morosa a percepção dos problemas pelo “dono da caneta”,
embora internamente as pessoas saibam plenamente quem são essas “figurinhas”. Ainda assim, como a excelência na gestão é
inspirada pelo engajamento e guiada pelo conhecimento, estes gestores, mais
cedo ou mais tarde, estarão expostos. Neste caso, cabe apenas esperar, pois em algum momento da vida profissional essas
pessoas vão se deparar com alguém muito inteligente e ético, que não será conivente
com o desempenho e exigirá mais profissionalismo e competência, colocando-as no
seu devido lugar, que não será numa árvore.
O grande
desafio está na iniciativa pública. Nas empresas públicas, autarquias e sociedades
de economia mista o buraco é mais embaixo. Como os cargos de gestão são cargos
comissionados, no qual o critério confiança prevalece sobre o critério técnico,
é bastante comum a indicação de verdadeiras “tartarugas” para posições
estratégicas. São pessoas que fingem que trabalham,
fingem que cumprem as regras, só não fingem na hora de receber os salários,
que, diga-se de passagem, são bem elevados. Essas pessoas geralmente têm vários
“compromissos externos” e costumam resolver “assuntos pessoais” na tarde de
sexta-feira.
Por ser
uma realidade bastante conhecida das pessoas, a sociedade já desenvolveu uma
cultura de conformismo, do tipo: “sempre foi assim”, “faz parte do jogo
político”, “é o ASPONE – ASsessor de POrra NEnhuma do político”, e por isso,
pouca coisa tem sido feita. O fato é que tal situação não pode ser admitida,
pois fere diversos princípios constitucionais e gera prejuízos incalculáveis. É
claro que em todos os casos, existem as exceções.
A
Constituição Federal deixa claro que a regra para a contratação de pessoas na
Administração Pública é o concurso público, sendo o cargo em comissão uma
exceção à regra. Para estes cargos em comissão a Constituição estabelece a
necessidade de fixação de uma quantidade mínima de concursados para ocupação. Infelizmente,
na esmagadora maioria das situações inexiste lei regulando este percentual
mínimo. Em razão disso, abusos são cometidos de todas as formas e nas mais
variadas entidades administrativas.
Uma
boa tentativa de moralizar essas indicações políticas e impedir que as copas de
árvores continuem sempre repletas de tartarugas, veio com o advento da Lei
13.303/2016, que estabelece normas relacionadas a governança corporativa,
transparência e compliance no âmbito das
empresas públicas, sociedades de economia mista e de suas subsidiárias. Neste
sentido, a lei estabelece requisitos objetivos a serem atendidos antes da
nomeação dos membros do Conselho de Administração e da Diretoria, com um viés
moralizador.
Iniciativas
como essas mostram que a situação pública não é um caso perdido. Por isso, a
população brasileira precisa acordar. É hora de dar um basta nestes desmandos
políticos. É preciso fazer cumprir as leis. É preciso mostrar que a gestão só
será perfeita quando ninguém for descartável... E todos entenderem como, o
quanto e porquê são substituíveis...