Wednesday, August 31, 2016

Brasil – Uma potência olímpica?

As Olimpíadas do Rio terminaram e o Brasil não ficou entre os 10 melhores no ranking de medalhas como planejou o Comitê Olímpico Brasileiro. Mas afinal, deveria ter ficado?
Bem, se o Brasil deseja ser uma potência olímpica, precisa rever muita coisa ainda, pois uma potência olímpica não se constrói apenas sediando uma Olimpíada, “apadrinhando” atletas profissionais ou vaiando os rivais. O Brasil precisa aprender mais, e aprender no sentido mais amplo da palavra. Podemos dizer que são quatro os principais fatores que elevariam o Brasil ao nível de potência olímpica.

O primeiro deles, e talvez o mais difícil na atual conjuntura do país, é despertar o interesse e a motivação das crianças para que pratiquem algum esporte desde cedo. Hoje, por exemplo, os meninos escolheriam o futebol e as meninas, provavelmente, o vôlei, pois é o que povo brasileiro mais conhece.  Por isso, é fundamental que as crianças tenham acesso e possam se familiarizar com as mais diversas modalidades esportivas. O primeiro incentivo vem de casa, dos pais. O segundo, da escola. Toda a escola deveria incentivar a prática esportiva, não apenas no âmbito da disciplina de educação física ou da iniciação esportiva, mas como uma oportunidade de socialização, melhoria da saúde ou mesmo da profissionalização do potencial atleta. O esporte deveria iniciar na pré-escola e seguir até a universidade. É claro que num país em que as crianças ficam muito pouco tempo nas escolas e que a merenda é o que, muitas vezes, atrai o aluno para as salas, é realmente difícil esperar que haja alguma motivação.
A verdade é que o esporte sem a educação é inócuo. Todo o atleta precisa conciliar esporte e educação por mais desafiador que pareça. Esporte não é só força bruta, é estratégia, é disciplina, é paciência, é inteligência, é corpo e cabeça trabalhando juntos. Logo, é possível concluir que culturalmente o desafio do Brasil é imenso, pois somos falhos também na educação. A educação e o esporte são caminhos contra praticamente todos os males que afligem nossa sociedade, tais como: violência, desigualdade, preconceito, desemprego entre outros.
Pela inexistência de uma cultura voltada para o esporte, acabamos ignorando o segundo fator importante, a necessidade de políticas de investimento público em infraestrutura esportiva. É difícil encontrar no Brasil grandes instalações para o esporte, com exceção dos imponentes estádios de futebol (legados da Copa?). Desta forma, muitos potenciais atletas, tais como: ciclistas, corredores, nadadores, ginastas, acabam desistindo do esporte precocemente ou indo treinar em outros países, já que suas modalidades esportivas são menosprezadas nos orçamentos nacionais. Se o governo não tem condições de oportunizar empreendimentos adequados (e custeá-los), deveria conceder benefícios para que a iniciativa privada o faça. Mas não é o que acontece.
Neste momento entra o terceiro fator que negligenciamos - a falta de incentivo para atletas amadores e de base. Hoje, a grande parcela dos recursos destinados para este fim ficou para profissionais de alto nível. O poder público ainda dispensa pouca atenção para o esporte como um todo, pois poucas são as políticas de incentivo. É preciso ter paciência, o atleta não nasce pronto, os patrocinadores precisam investir pensando no médio e longo prazo. Neste aspecto, as confederações tem papel muito importante, pois precisam preparar os atletas, dar-lhes treinamentos, leva-los para disputas de campeonatos nacionais e internacionais, ou seja, apoiá-los em todos os sentidos.

O quarto e último fator, também decorrente da falta de cultura esportiva e de políticas de investimento no esporte, é a carência de profissionais que atuem nesta área. Neste caso, temos uma situação parecida ao da cultura, na qual o artista precisa percorrer, muitas vezes, caminhos árduos para conseguir recursos para execução de seu trabalho. O profissional de educação física e outros que atuam na orientação técnica não recebem a devida valorização no país. Isso é bastante preocupante, pois estes profissionais não são apenas técnicos, mas mediadores de um processo didático-pedagógico, que tem o esporte como conteúdo e possibilita aos alunos o acesso à cultura esportiva, possibilitando a análise critica do esporte.

Não é atoa que a palavra mais proferida pelos medalhistas olímpicos brasileiros nesta olimpíada foi “superação”, mas não no âmbito de superar os rivais, mas de superar as dificuldades que a vida impõe ao atleta no Brasil.
O caminho é árduo e longo, mas o Brasil tem totais condições de superar todos os seus desafios. Os primeiros passos não precisam vir do governo, podem vir de nossas casas. Vamos correr!!