Tuesday, June 4, 2013

No país em que vivo...

No país em que vivo todos os idosos são bonzinhos. Não existem vovôs ou vovós ruins. Ter idade avançada já garante o status de “anjinho de cabeça branca”. No país em que vivo as pessoas más não envelhecem.

No país em que vivo a saúde é sempre responsabilidade do Estado que não investe o suficiente. Os pacientes são todos pobres coitados, pois mantém uma saúde alimentar perfeita, não são imprudentes no trânsito e não se automedicam. No país em que vivo a saúde não vem de casa, vem dos hospitais.
No país em que vivo ter filhos é a maior dádiva da natureza, especialmente quando se têm vários de uma vez só. É um milagre, passível de um show televisivo! No país em que vivo o advento da maternidade é mais importante do que a condição de vida para sustentar uma família.  Os bebezinhos não crescem.

No país em que vivo as crianças são todas bem educadas, nascem e crescem como santinhas. Quando por uma "exceção de caráter" aprontam alguma coisa a culpa jamais é dos pais, mas sim do professor, que foi incapaz de educas-las. No país em que vivo a educação não vem de casa, vem da escola.
No país em que vivo os políticos são todos corruptos, pois mentem, roubam e às vezes matam por poder e dinheiro. No país em que vivo os políticos aparecem simplesmente do nada, eles caem do céu, eles não provêm do povo.

No país em que vivo o negro precisa de cota, o índio é relativamente incapaz e o pobre é sempre reflexo do modelo capitalista selvagem. No país em que vivo se enfrenta o preconceito com mais preconceito.   
No país em que vivo gente com dinheiro não vai presa, gente sem também não.

No país em que vivo a justiça é para todos, para todos aqueles que detém poder e dinheiro.

No país em que vivo o estudante rico vai para escola pública e o pobre para um banco contrair empréstimo.
No país em que vivo os problemas do ensino são resolvidos com cota, a falta de emprego é resolvida com algum tipo de bolsa assistencialista, a falta de infraestrutura viária é resolvida com pedágio, a falta de vagas na cadeia é resolvida com liberação de detentos, a falta de leitos na saúde é resolvida com macas no corredor. No país em que vivo tudo é resolvido, apenas as causas que não. No país em que vivo se dá o peixe e mata-se o pescador.

No país em que vivo os valores não valem nada e o que vale alguma coisa já está sendo tributado na fonte.
 
ZSCHORNACK, Thiago. 2013.

Monday, June 3, 2013

A educação para um mundo melhor

Deuses e diabos são criados todos os dias por uma sociedade moldada e incutida de educação. Uma educação que cria Mahatmas Gandhis e Madres Terezas de Calcutá ao mesmo tempo em que cria Hitlers e Saddans Husseins. Uma educação que permite a transformação de pedaços de terra em nações, povoados em sociedades, ritos em cultura e sonhos em realidade, mas que é capaz de fazer também com que tudo isso aconteça ao revés. Deve a educação que cria e destrói ser priorizada num planeta que a cada mês de paz vive um ano de guerra?

A resposta parece óbvia, apesar de algumas reflexões, aliás, a educação é importante quando tem propósitos nobres e busca a felicidade humana em afluência com a reciprocidade e harmonia, desta forma, deve ser priorizada. A educação sempre foi a mais poderosa ferramenta de nossa sociedade, estando presente na mais inculta à mais avançada comunidade. Embora somente hoje, tardiamente, resolveu-se questioná-la.

Educar não é mais do que transferir conhecimentos, preparar ou capacitar alguém para algum fim, seja ele qual for. Por isso, a educação é um elemento importante e crucial na edificação e moldagem da personalidade humana, embora o arbítrio histórico humano reflita uma estética de negação do óbvio em prol de preconceito e intolerância. Julga-se com freqüência fisionomias, pensamentos e atitudes, mas não se enxerga os fatores precedentes e moldadores de comportamentos. Condenam-se atos definidos como anômalos sob alegações escusas de loucura e insanidade ao invés de se analisar as influências de cunho educacional originadores de tais atos. Terroristas, bandidos, políticos são alvos comuns de julgamentos isentos de imparcialidade, aonde o caráter estereotipado é prioritário e o principal é olvidado ou propositalmente ignorado. E o principal se chama educação, pois é a educação ou a sua ausência que cria e destrói tudo o que se conhece.

Hoje, vive-se em um tempo no qual as sociedades se aproximam, as relações se ampliam, as culturas são influenciadas, mas a intolerância e a mesquinhez ainda permanecem. Embora com acepção de algo bom, sabe-se que é a educação a causadora desse fato, dessa sucessão progressiva de erros históricos, não obstante, seja a própria a educação a “messias” salvadora capaz de retificar e construir um futuro mais próximo do que seja mundialmente aceito.

Devido à amplitude e intensidade pragmática na concepção de culturas, religiões, tradições e ritos, a construção de um mundo melhor, com base numa educação inequívoca, ou próximo disso, será longo e talvez árduo, mas garantirá às novas gerações um futuro digno, isento da necessidade de constante saudosismo para com os tempos passados. A educação que se deseja e deve-se priorizar é a que possibilite a todo cidadão a oportunidade de acesso ao conhecimento universal, na sua integridade, permitindo que todas as escolhas individuais sejam tomadas desvinculadas de qualquer vontade alheia. A educação com propósitos de paz, amor e atenta à felicidade do ser humano deverá sempre ser priorizada.

ZSCHORNACK , Thiago. A educação para um mundo melhor. Jornal da Educação. Disponível em: <http://www.jornaldaeducacao.inf.br/index.php?option=com_content&task=view&id=806&Itemid=63#myGallery1-picture(8)>. Acesso em: 24 jul. 2012.

Uma morte natural

Infelizmente tive que ir a um velório. Digo infelizmente não pelo velório em si, mas pelo que ele representa, ou seja, a morte de alguém. 

Tudo bem que a cidade era pequena, mas o velório foi digno de um feriado municipal. A falecida era benquista por todos e por isso o ato reuniu um número imenso de pessoas. O atestado de óbito confirmava morte por infarto do miocárdio, ou como preferem alguns, “morte natural”. É lógico que de natural não havia nada. Como é obvio que a morte natural não poderia ser evitada, a “ciência médico-legal da morte” decidiu que os idosos nunca morrem de velhice, mas do coração, de insuficiência respiratória ou de qualquer outra coisa do tipo. Tudo bem faz sentido.
O clima que emergia daquele velório era um clima pesado, de tristeza e saudade, provavelmente compatível às ótimas recordações que ficaram daquela senhora. Uma comoção um tanto natural, aliás, a morte é um dos maiores tabus da cultura ocidental, que vê na morte o fim. Por alguns minutos, eu, que não tinha nenhum parentesco com a falecida e apenas algumas vezes a tinha visto, também me pus a chorar. Bastaram-me alguns poucos momentos de contato para que chorasse feito uma criança. 

Mas deixando de lado a choradeira, em especial a minha, e focando na essência daquele momento de vulnerabilidade emocional, minha mente começou a processar uma série de informações, como se resolvesse compreender o incompreensível ou racionalizar o ilógico. Então, seguindo aquela corrente de sentimentos e sensações, parei, pensei e comecei a me perguntar: Se a morte de uma mãe é tão dolorosa assim, como deve ser a dor ao se enterrar um filho? Qual a sensação de se enterrar simbolicamente alguém morto em guerra?  Qual a sensação de nem saber se um parente está vivo ou morto? Ou seja, qual a sensação sentida quando a morte parece não seguir uma lógica? É lógico que eu não esperava que as respostas surgissem naquele ambiente. Eu morreria de medo se ouvisse alguma voz...

Esta semana acompanhei pela TV mais uma notícia de decapitação de refém no Iraque. É espantoso. Só este ano eu já perdi a conta de quantos foram decapitados. Nos jornais vejo quase todos os dias em números o saldo de mortos das últimas 24 horas. Acho que se somássemos só as baixas civis no Iraque, durante um mês, já teríamos uma base de quanto tempo levaria para a população daquele país se extinguir. A violência urbana já nem é mais dado é uma referência estatística, que serve quase que exclusivamente como base de comparação com anos anteriores. Somo a isso, a violência no trânsito, a qual é mais fatal no Brasil do que a ação de qualquer grupo terrorista no mundo. Pior ainda são os pobres, os miseráveis, os índios..., estes aí nem sequer são contabilizados, são apenas hipóteses ou estimativas. Mas como pode a dita “civilização moderna” chegar a este ponto? Cadê a dignidade dessa gente?  Parece que o ser humano nasceu para a morte, ao invés da vida. E o pior é que isso é verdade, segundo estudos, em toda história houve sempre mais guerra do que paz. Aí me ocorreu mais uma pergunta, daquelas sem resposta imediata, mas que sintetizou todas as perguntas anteriores que me ocorreram: se a “morte natural” é assim tão dolorosa, qual é a sensação de enterrar alguém morto da “morte não natural”? 

O fato é que muita gente fez previsões no passado, de cientistas a profetas, predizendo que o homem evoluiria, até se transformar “num deus”, e que o indispensável progresso da humanidade atingiria um ponto em que não haveria guerras, nem doenças, nem morte. Mas a realidade não é bem essa, esse pessoal se enganou feio, pois vivemos no século da guerra, vivemos no século em que uma vida tem pouco valor. Não é difícil de perceber. Os soldados mortos em combate, as vítimas civis das guerras, as vítimas de balas perdidas, de atentados terroristas, que tratamento recebem? Dizemos que vivemos num mundo de horrores ainda sequelado pelas lembranças da Segunda Guerra. Que nada! Nós é que queremos vivenciar parte destas lembranças. Ou não pagamos para que nos intimidem e assustem? Aliás, a morte é banal ou talvez... legal. Eu, ali, visualizando a falecida, pobrezinha, e pensando tudo isso. Mas é verdade, pagamos à indústria cinematográfica bilhões de dólares anualmente para que crie guerras, simule mortes, dor e sofrimento. Como se não bastasse a realidade dos noticiários, agora junto ao tradicional medo pela morte soma-se uma estética da negação que transforma em um banalizado e grotesco filme de horror qualquer referência séria a ela. Se não nos fosse suficiente a ficção, ainda saímos às ruas defendendo os interesses de sujeitos que matam, roubam e danificam a integridade física e psicológica alheia, em troca de alguns favores baratos, às vezes, uma cesta básica ou alguns “real”. Por outro lado criticamos as ações de ricos, poderosos, famosos, considerando apenas a versão parcial de muitos meios de comunicação. Será que nos sentimos mais aliviados com as notícias da mídia, a mesma mídia que nos choca, pois temos os “EUA defendendo a todos”? Essa é mais uma daquelas perguntas que eu não saberia nem a quem direcionar, pois hoje a morte está banalizada.  Banalizada pelos vencedores das guerras, pelos poderosos e ricos, pelos detentores de armas, pelos fanáticos religiosos e talvez, por que não, por todos nós.

Apesar daquele momento de tristeza, percebo que aquele velório me ensinou algo. Algo grandioso e profundo, que eu posso resumir na seguinte frase: quanto mais pessoas morrerem da “morte natural”, mais sentido fará a vida. Naquele dia, a vida ainda fez sentido pra mim. Que Deus a tenha!

ZSCHORNACK, Thiago. 2010.

EAD - presente ou futuro? - Uma opinião

O que percebo analisando comentários deixados em blogs e outras mídias sociais é que muitas pessoas ainda apresentam resistência a ideia do ensino a distância. Os principais argumentos residem nos seguintes aspectos:

a) O Ensino a distância é uma alternativa para as universidades baratearem seus custos operacionais, sem oferecer nenhum benefício em contrapartida.
b) Os alunos de cursos a distância não tem acesso a um conteúdo de qualidade, haja vista limitações de ordem técnica e tecnológica;
c) O networking possível nos cursos presenciais fica comprometido nos cursos a distância.
d) A falta de fiscalização do Estado permite que muitas universidades ofereçam cursos a distância de má qualidade.
A minha opinião se opõe a estes argumentos apresentados. Acredito que o sucesso do ensino a distância depende da criação, por parte da instituição e do tutor, de oportunidades adequadas para o diálogo entre professor e aluno, bem como de materiais didáticos bem estruturados. Através destas medidas simples acredito que uma grande parte do esforço estará direcionado, sendo que a outra parte dependerá de quem fará uso do EAD. Creio que a construção do conhecimento a partir da autonomia do aluno e da flexibilização do tempo é peça fundamental para a melhoria da educação no país. Por outro lado, entendo ser fundamental também a presença do Estado como ente fiscalizador das atividades das universidades autorizadas a oferecer este tipo de ensino.
Entendo ainda que a crise de qualidade que nosso país atravessa está intimamente ligada às políticas públicas que visam realizar o milagre da educação – de fazer em poucos anos aquilo que por muitos anos não foi feito. As metas audaciosas traçadas pelos governos são fomentadas a todo custo com incentivos absurdos e políticas preconceituosas. O ensino a distância é uma realidade. Não há o que se discutir a respeito dele - se é bom ou ruim, basta olhar para os lados e visualizar a experiência positiva dos países desenvolvidos. Ela está aí, e quem souber fazer bom uso dela atingirá os mesmo resultados que qualquer aluno dedicado. Agora, quem não souber, estará à mercê de um futuro sombrio, não muito diferente do que se visualiza hoje: mercado de trabalho exigente, resultados pífios em exames, difícil possibilidade de ascensão profissional, universidades sem credibilidade etc. Concluo que o futuro não está no ensino a distância, que já é uma realidade, mas naqueles que farão uso dele.

ZSCHORNACK, Thiago. Artigo publicado em: <http://thiagozs.criarumblog.com/Primeiro-blog-b1/Analise-e-opiniao-sobre-a-EAD-b1-p1.htm>. Acesso em: março de 2013.